segunda-feira, abril 24, 2006

Virgulando os subversivos

por Paulo Horn

Baseado no fato de que a ordem institucional de toda essa porra que tá aí, está detalhadamente descrita em nossos estatutos e que agora todos tem conhecimento de minha mais que correta missão, a de pôr os "pingos nos ís", ou no caso, de "virgular" e "pontear" o clássico da subversão da linguagem, Ulisses, tomei a liberdade de interromper este trabalho de profunda importância para a permanência da retiliniedade do regime onde nosso DOPS está incluido e empreender uma caça aos subversivos, bastando aqui um parecer sobre o caso que fomentou a criação deste departamento: o suposto suborno do senhor vereador Lauro Kalfels à estagiária de jornalismo do A Notícia, Betina Weber.

O caso foi analisado segundo os preceitos do Ato institucional 1, e dividido em 3 partes onde a partir dos desdobramentos da analise foi redigido o Julgamento do DOPS.

Parte Primeira: Análise dos atos do vereador e de seus assessores, reação da jornalista

A jornalista Betina Weber recebeu na redação do A Notícia, uma carta contendo 200 reais, enviada por acessores em nome do vereador Lauro Kalfels. Betina então entrou em contato com o político por telefone e o indagou sobre o dinheiro, o qual o senhor Kalfels classificou como um presente. Segundo o vereador, os duzentos reais serviriam para a jornalista comprar algo bonito para ela, já que ele não tinha conhecimento do gosto da moça. O motivo do presente: o bom desempenho de Betina como jornalista política, responsável pela cobertura na câmara de vereadores de Joinville. O jornal decidiu publicar a história causando um inicial levante nos alunos do curso de jornalismo do Ielusc, entidade pela qual Betina entrou no programa de estágio.

Parte Segunda: Conseqüências da divulgação

A publicação do caso e consequente acusação de suborno levantada perante o vereador fez emergir um debate sobre as questões éticas acerca da relação política/poder em Joinville. Alunos do curso de jornalismo e profissionais da área discutiram acabaram por levar (finalmente) viva alma para uma audiência pública na câmara, onde Lauro Kalfels não compareceu. Dos presentes na sessão, apenas 3 foram analisados pelo Dops: os vereadores Marco Aurélio Maccuci e Darci de Matos, e o jornalista convidado Oliver Albert. O vereador-presidiário-em-liberdade-condicional foi sofrível em seus comentários. Tomou a audiencia emprestada (ou seria roubada?) para esboçar uma defesa própria e atacar outro veículo de comunicação, o semanário Gazeta de Joinville. Com comentários que pretendiam o humorismo, Marcucci fez os presentes rirem. De sua cara. O presidente da casa, Darci de Mattos, simplificou o ocorrido: não se caracterizou como suborno por que o vereador Kalfels não pediu nada em troca. Foi ingenuidade da acessoria de imprensa. Oliver Albert chegou dizendo não estar ali para fazer a defesa do A Notícia mas saiu-se um advogado melhor do que jornalista. 9 jovens entregaram pedidos de cassação do vereador Lauro Kalfels.

Parte Terceira: Desfecho do caso

No dia do julgamento de Kalfels, a bancada do PMDB retirou-se da câmara para não participar da votação. Kalfels foi absolvido por nove votos contra um. O jornal A Notícia, que iniciou a discussão fez-se de desmemoriado e tratou de esquecer o assunto. A matéria do A Notícia sobre a audiência não foi assinada. Betina Weber foi mantida como correspondente na câmara. O Ielusc não pronunciou-se sobre o caso.

VEREDICTO DO DOPS

LAURO KALFELS - O vereador Lauro Kalfels foi declarado SUBVERSIVO por ter tentado pagar a jornalista pelo trabalho que ela já recebia do jornal para fazer. Kalfels não tomou conhecimento de ética e o fato de ter enviado dinheiro para a jornalista que cobre a área onde atua é caracterizado pelo DOPS de suborno.

DARCI DE MATOS - O presidente da Câmara foi considerado SUBVERSIVO por alegar ingenuidade do Kalfes e não mau-caratismo ou falta de decoro.

BANCADA DO PMDB - todos os vereadores que se ausentaram da votação de cassação do mandato de Lauro Kalfels são declarados SUBVERSIVOS por serem coniventes com a prática do acusado.

IELUSC - o IELUSC também é declarado SUBVERSIVO por ter se ausentado de qualquer declaração sobre o caso, ainda mais por a acusadora ser parte do programa de estágio conjunto com o A Notícia.

A NOTÍCIA - O A Notícia é um caso à parte. Somente nesta análise ele pode ser classificado TRIPLAMENTE de SUBVERSIVO. Primeiro por não ter insistido no caso e aceitado o veredicto da câmara, sendo conivente com a sacanagem. Segundo por ter publicado uma matéria sobre a sessão e não ter colocado os créditos, causando desconfiança se quem escreveu-a foi o jornalista presente como convidado. Terceiro por ter mantido Betina na Câmara, sem se preocupar com a relação reporter/vereador e com os constrangimentos que podem surgir.

BETO GEBAILI – Pra não dizer que não falei das flores, Gebaili também é SUBVERSIVO. Sem mais detalhes. (O presente será discutido futuramente em julgamento próprio).

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